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ORAÇÃO À SAGRADA FACE Ó meu Jesus, lançai sobre nós um olhar de misericórdia! Volvei Vossa face para cada um de nós, como fizestes à Verônica, não para que a vejamos com os olhos corporais, pois não o merecemos. Mas volvei-a para nosso coração, a fim de que, amparados sempre em Vós, possamos haurir nesta fonte inesgotável as forças necessárias para nos entregarmos ao combate que temos que sustentar. Amém. ORAÇÃO DA AMIZADE Senhor, quão poucos são os verdadeiros amigos, porque imperfeitos, limitados! Muitas vezes decepciono-me, esquecido de que sou eu quem erra quando espero deles uma perfeição, uma santidade e um perfeito amor o qual somente Vós possui e mesmo aqueles que Vos amam verdadeiramente, são falhos, porque humanos. Fazei-me, obstante as dificuldades, bondoso e verdadeiramente amigo para com todos, sem nada esperar, nem mesmo um só agradecimento. Sois, Senhor, o melhor e mais perfeito amigo entre todos os meus amigos. Vós que me amais com um amor perfeito, ensinai-me a amar com o Vosso coração, a olhar com Vossos olhos e a viver sempre como testemunha digna da profunda amizade e amor que sempre tivestes e tendes para comigo. Amém. Envie sugestões e duvidas para



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SACERDOTES
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Ferramentas para atingir a maturidade emocional

Por: ALMAS, A.C.

Existem doze estratégias que nos podem ajudar a atingir a maturidade emocional, sem que esta busca se torne um processo difícil de alcançar:

1. Auto-estima positiva

2. Reconhecer as próprias emoções

3. Aceitá-las

4. Orientá-las

5. Expressá-las construtivamente

6. Sentido de humor

7. Fomentar as emoções positivas

8. Equilibrar trabalho e descanso

9. Controlar a imaginação

10. Fazer alguma coisa pelas outras pessoas

11. Reconciliar-se consigo mesmo e com os outros

12. Viver em paz com Deus

As fases da vida celibatíria

Por: ALMAS, A.C.

“É claro que a opção pelo celibato não se faz de uma vez por todas; de fato, ser virgens não é questão de manutenção, mas de conquista permanente”(Amadeo Cencini).

Quando falamos das fases do desenvolvimento da vida consagrada não estamos querendo dizer que sejam etapas que forçosamente devam ser vividas ou percorridas da mesma maneira por todos os consagrados e consagradas, uma vez que cada um poderia dizer que tem feito um percurso especial em sua vida celibatíria.

• FASE 1: AMOR JOVEM: UM DESEJO QUE NASCE

O amor jovem é igual à paixão, sentimentos intensos e envolventes, sempre seguro e firme, portanto sincero, é um amor fresco, vital, também um pouco ingênuo e idealista e, por isso, algumas vezes pode ser pouco confiível. Mas é importante que este amor exista e aconteça não somente nas relações de matrimônio, como também na escolha da vida consagrada, já que esta deciSão não deve estar impulsionada somente por motivos teológicos ou éticos, mas por um impulso a algo belo, bom e verdadeiro também; por isso é preciso que as pessoas que iniciam a vida religiosa conheçam que existe um nexo natural e constitutivo entre vocação religiosa ou sacerdotal e maturidade afetiva. É preciso entender a vocação à vida consagrada não só como uma vocação a servir, mas – sobretudo – como um chamado a amar, que deve fundar sua motivação em abraçar um estado de vida em uma proposta de amor totalmente livre e gratuita.

• FASE 2: AMOR ADULTO. UM DESEJO COM FORTE OPOSIção

Esta etapa é considerada um momento de consolidação, mas, como toda consolidação, é preciso a prova. Sem prova não pode haver nenhuma dinâmica de crescimento.

Como diz o Eclesiístico: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação” (Eclo 2,1). O problema não está na prova em si, mas na maneira em que ela é enfrentada, sobretudo a prova afetiva que se apresenta mais nesta fase. Isso se deve, em grande parte, a que a maioria dos consagrados e consagradas se encontram ao redor dos trinta anos.

• FASE 3: AMOR MADURO: DESEJO LIBERADO

Existe um ditado hinduísta que diz: “Até os vinte anos, uma pessoa aprende, entre os vinte e os quarenta se faz; ao redor dos quarenta começa a procurar a si mesmo”. Esta é uma etapa de renascimento, ao contrário dos que pensam que a crise dos quarenta é um tempo de angústia, vive-se melhor esta fase quando se tem uma visão mais madura da mesma.

A crise dos quarenta está marcada por duas coisas importantes:

A) Mudança no sentido do tempo, o qual se quer aproveitar mais e se sente que já não se pode perdê-lo em nada que não valha a pena.

B) O medo de morrer, que tem vários significados.

1. Mudança de imagem
a. Em relação a si mesmo
b. Em relação a Deus

O desafio essencial nesta etapa é uma segunda converSão, que pode ser procurada da seguinte forma:

a) Fidelidade a Deus e descentralização do eu.
b) Fé de vínculo e de consolidação.

• FASE 4: AMOR ATÉ O FIM. DESEJO REALIZADO

É evidente que o corpo envelhece antes da mente e do coração, e que custa trabalho para muitas pessoas se enfrentar com a velhice, se isto acontece em geral, é normal que também suceda a muitos consagrados. Trata-se então de um tempo no qual se vive sobretudo a sabedoria do idoso, a qual está marcada pelos seguintes momentos:

a) Tempo de amor: onde há amor, aí está a maior prova de que um coração virgem não pode envelhecer.

b) Idade da transparência: no Oriente, o conhecimento é visto como a união entre a inteligência e o coração, isso é o que se procura nesta etapa da vida. Que exista uma integração das fases passadas, através da memória, que leve uma pessoa virgem a fazer e elaborar uma síntese de sua vida que reflita Deus e os demais e que, sobretudo, dê respostas a sua própria existência.


Religiosidade infantil e religiosidade madura

Por: Por: Lizette Kingwergs (psicóloga)/ Texto resumido do Dr. Carlos Dominguez Morano

“Não dispomos de outro lugar para nos aproximar a Deus que o de nossa própria biografia (Dominguez, C)”.

A religiosidade infantil: o Deus da Criança

A religiosidade pode conter sentimentos infantis de onipotência, menosprezando as condições externas da realidade (o homem que deseja superar todas as limitações que a realidade da vida lhe apresenta). Pode ser um terreno fértil para a manutenção de certas estruturas neuróticas.

“A religião pode ser utilizada como um parapeito contra a angústia, como uma chave mágica para a resolução de toda incógnita, como uma garantia de imunidade diante das contingências da vida”. “A experiência religiosa que não remete à realidade pode ser reduzida a uma pura ideologia, a um ritualismo obsessivo ou a um mero sustento moral”.

Por exemplo: quando se ignoram os conflitos da realidade pessoal ou da realidade externa, se desencadeia aquilo que alguém preferiu ignorar. Assim acontece com a agressividade existente na intolerância; arma-se uma religião para seus fiéis, sendo cruel e intolerante para aqueles que não a reconhecem. Inclusive, utiliza-se a religião para justificar afãs destrutivos.

O Deus da Criança:

• Construído à medida dos desejos e dos temores de nossa infância.

• É um Deus “providência-mágica” que está aí para gratificar e para tornar suportável a dureza da vida. Um mundo onde não existe frustração do desejo.

• É um “peito bom”, onipotente e onipresente, que responde magicamente ao desejo.

• É um Deus zeloso na área da sexualidade, que estaria mais preocupado com este aspecto do que com outros temas, como a injustiça, a hipocrisia, a avareza, o engano ou a religião legalista e opressora.

• É um Deus de proibições, ameaças, castigos e perpétua vigilância sobre nossos atos e intenções.

a) Deus como reflexo de uma pessoa

• Deus é concebido como um prolongamento do próprio narcisismo, isto é, Ele é confundido com o próprio “eu”.

• O “outro” ainda não existe, não existe possibilidade de encontro ou vinculação com o real.

• Deus também não existe porque foi reduzido a uma imagem espetacular (a uma projeção inflada do próprio eu).

• A alteridade constitui uma profunda ameaça. Os outros, como entidades livres, diferentes e não manipuláveis, se tornam um objeto sumamente perigoso. Desencadeia-se a violência, na tentativa de apagar e eliminar a ameaça que o outro representa (destruição do diferente).

• Concentra-se na ordem da idéia, da crença e do dogma.

• Aqui se encontram o fundamentalista e o fanático religioso.

b) O Deus da Mãe imaginária:

• A relação com Deus pretende eliminar nossa condição de seres separados, que é a única que possibilita o autêntico encontro com a alteridade.

• É preciso uma presença constante, uma permanência do gozo fusional.

• Incapacidade para assumir a ausência do outro (a distância inevitável que nos constitui como sujeitos).

• Evita despertar à realidade, sempre conflituosa, na qual a distância e a separação resultam intoleráveis.

• Concentra-se na experiência afetiva, na comunicação e no amor.

• Pretende relacionar-se com um Deus de prazer (como em um sentido de prazer permanente).

• Um exemplo seria o pseudomístico e “iluminado”.

c) O Deus da Lei e do sacrifício:

• Ancorado em sua ambivalência de amor-ódio diante do elemento paterno.

• Constrói um Deus oposto, diante do qual edifica uma relação de rebeldia permanente ou de submissão aniquiladora.

• Permanente ambivalência afetiva diante de Deus (ou eu ou você).

• Faz da Lei, da obediência da norma e da moral o eixo de seu vínculo religioso. Uma lei sacralizada que substitui o próprio Deus e que perde sua natureza mediadora.

• Sua violência se desloca e se oculta sob o ritual do sacrifício (anula o ódio ao outro, com o retorno desse ódio contra si mesmo, em forma de culpabilidade).

• Magnificação e sacralização da dor. É a oração dos propósitos, das culpabilizações e da insatisfação permanente com a própria pessoa.

A religiosidade madura: o Deus de Jesus

Possuir uma religiosidade madura, ou crer no Deus de Jesus Cristo, é acreditar no Deus que nos remete à realidade, com toda a dureza que ela possa apresentar em muitos momentos de nossa existência e, em lugar de solucionar os problemas, prefere nos proporcionar um dinamismo para que nós mesmos trabalhemos na procura de uma solução.

Vem oferecer uma mensagem de vida e de salvação e, em certo modo, a despreocupar-nos de uma busca angustiada de redenção pessoal, convidando-nos – pelo contrário – a um projeto comum de transformação de nosso mundo em um Reino digno de Deus e digno do homem. Não se trata de um Deus-poder. Não é um Deus que atemoriza, ou que deseja conseguir reverência ou sua admiração.

É o Deus-amor: é um amor que opta pelos fracos, oprimidos e marginalizados, tanto no sentido social como emocional, não são somente os pobres, são também os pobres de espírito. É um amor que não foge do conflito, que se enfrenta, denuncia, acusa e ataca os que são fonte de opressão, de hipocrisia, de ódio e de marginalização. É uma amor que exige e compromete.

A verdadeira experiência mística

• Não destrói a identidade pessoal (estabiliza, sustenta e enriquece essa identidade). Tem consciência de que seu “eu” não desaparece.

• Dirige-se ao passado para estabelecer novos caminhos para voltar a um presente que, desse modo, apresenta-se ampliado, clarificado e enriquecido.

• É consciente de que tem de realizar uma atividade importante com seu corpo e com sua mente para possibilitar a presença do Deus desejado.

• O místico não ama o amor, ama ao outro a quem considera amor.

O místico vive geralmente uma experiência criativa, tanto no nível da ação, desenvolvendo uma atividade de importantes repercussões sociais e históricas, como no nível da criação literária.



Depressão e fé

Por: Mara S. Martins Lourenço

Religiosos também são atacados por esse mal. Uma das doenças mais comuns nos nossos dias é a depressão, que é o tema deste artigo. Vamos tentar desmistificar alguns tabus até hoje presentes na mente e no coração de muitas pessoas. são eles:

1. Um homem de verdade ou uma mulher forte não ficam deprimidos, pelo menos, não por muito tempo.

A verdade: Depressão não é a manifestação de uma imperfeição de caráter ou de uma fraqueza humana. Aquele que está em luta contra esse distúrbio não é um indivíduo fraco ou emocionalmente frágil.

2. Uma fé sólida afasta a depressão.

A verdade: A crença de que religiosos não são “atacados” pela depressão – e de que devem desconfiar de sua fé caso o sejam – é tanto quanto cruel como o primeiro mito relatado acima. Admite-se que padres, religiosos e pessoas altamente crentes e religiosas possam sofrer de pressão alta, diabetes, esclerose, entre outras enfermidades, e não se percebe que a depressão é uma perturbação grave da saúde tanto quanto os outros males citados o São. E o é até mais, tendo em vista que ela não afeta só o físico, mas toda a fisiologia do paciente, ou seja, todo o funcionamento do corpo – tanto na parte biológica como na mental. Percebendo este aspecto da doença, podemos entender por que razão as pessoas depressivas sentem seu relacionamento com Deus enfraquecer-se.

Tenhamos em mente que:

1. A depressão não é simplesmente um “mau dia”, mas sim, uma grave doença mental;

2. A depressão não está associada com a intensidade da fé. Qualquer pessoa pode se tornar vítima de suas garras hostis.

Três fatores se entrelaçam e podem determinar o surgimento da depressão, são eles:

1. Genética: a história famíliar de pacientes depressivos revela que seus parentes biológicos sofrem ou sofreram de depressão, havendo, portanto, uma predisposição ao desenvolvimento da doença.

2. Estresse: tão comum em nossos dias é uma força propulsora que – agrupada a outros fatores – pode desencadear a depressão. O estresse é potencializado por fatores tais como: baixa auto-estima, preocupações financeiras ou profissionais, problemas de relacionamento, conflitos psicológicos e mudanças de vida significativas.

3. Tristeza: quando sentimentos como tristeza, solidão, rancor, pesar por perdas são guardados, estes vão se avolumando de forma a se tornarem “tóxicos” à nossa alma e ao nosso corpo. É como um vulcão que guarda dentro de si, até mesmo por séculos, substâncias destrutivas; e quando menos se espera ocorre a erupção. No caso do ser humano, essas “substâncias” são as mágoas não resolvidas, as perdas não choradas e não reclamadas, que se avolumam e, de repente, (Â s vezes, não tão de repente assim), se transformam em doenças, como a depressão, por exemplo.

A depressão faz com que muitos desejos cessem, inclusive o de orar.

Os sentimentos de separação, isolamento e abandono, comuns na depressão, intensificam-se quando a pessoa sente que Deus está ausente. A alma sente tanto quanto a mente e o espírito. Embora a pessoa sinta um completo abandono, uma ausência de Deus, este se apresenta naquelas situações em que a pessoa se sente mais fraca, como canal de graça para o outro.
Como a depressão é uma doença, e grave, é necessário que seja tratada. O paciente precisa da ajuda de profissionais. Os médicos psiquiatras e os psicólogos são os mais indicados para tratí-la por serem especialistas no tratamento do aspecto fisiológico e psicológico das perturbações mentais. Justamente porque é preciso haver uma mudança de atitudes.

Encarar a vida assim pode ajudar os deprimidos a saírem desta condição:

- A prioridade número um de minha vida tem que ser minha recuperação;

- Neste momento, estou necessitado de ajuda;

- É necessário que eu me permita lamentar – de maneira plena e desinibida – as perdas que sofri durante a vida;

- É necessário que eu me permita ficar irado;

- É hora de parar de me castigar por falhas reais ou imaginírias;

- Sou mais do que aquilo que realizo, tenho meu próprio valor;

- Devo evitar que meu trabalho venha a se transformar em meu senhor;

- Reconheço minhas limitações. Posso ser instrumento e canal da graça e da cura de Deus, mas salvar pessoas é algo que pertence ao domínio exclusivo de Deus;

- Possuo controle sobre algumas íreas, não é possível controlar tudo e todos;

- Preciso de mais companhia e menos isolamento;

- Preciso parar de ser tão inflexível comigo mesmo.

Concluindo: deixemos de lado os paradigmas de que depressão só ataca pessoas fracas e sem fé. É obrigação nossa – como seres humanos e cristãos – estar sempre atentos com relação àsnossas reações físicas, pois o corpo fala, nos dá sinais de como está a nossa saúde mental e espiritual. Por essa razão, fiquemos também atentos àspessoas que estão ao nosso redor e nos procuram, pois podem estar sofrendo caladas, esperando uma abertura de nossa parte, nem que seja uma pequena “fresta”, para falarem de seus sentimentos e suas dores.

e-mail: maralourenco@geracaophn.com
www.cancaonova.com




O que é ser criança diante de Deus?

Por: Padre Nicolás Schwizer

Que atitudes implica a filialidade? Parece-me parece que são, fundamentalmente, três atitudes frente ao Pai: confiança, obediência e entrega filial.

1. A confiança filial. Deus é um Pai todo poderoso. Esta afirmação teológica desperta em mim, a atitude de confiança. É a experiência da criança que sabe confiar cegamente em seus padres. E o faz instintivamente, sem muita reflexão; é sua experiência original. Por isso se sente tão seguro e querido e vive tranqüilo e feliz sua vida.

O que numa criança é espontâneo, nós, os adultos, temos de reconquistar se queremos ter alma de criança. O que a criança pressupõe de seus pais naturais, o homem filial o reconhece no Pai celestial. Por isso, o Padre Fundador procura conduzir-nos à confiança filial: “Meu esforço pessoal, com respeito a toda a Família, é que cheguemos a ser heróis da confiança”.

Ele costuma ilustrar esta confiança heróica com a imagem do filho do marinheiro. Este, mesmo tendo consciência do perigo em alto mar, não se desespera, permanece tranqüilo, porque sabe que seu padre está no timão. É esta convicção a que temos de reconquistar: “O Pai tem em suas mãos o timão, mesmo que não saiba o destino nem a rota” (HP, 399). Quando assim entregamos a Deus Pai a condução de nossa vida, então renasce a segurança existencial. É a “segurança do pendulo” que permanece firmemente agarrado desde o alto.

O Pai é a rocha inamovível, a tranqüilidade do filho, em meio dos vaivens da vida. “A criança tudo vence mediante a confiança” (Deus meu Pai, 223), afirma o Padre Fundador.

A infância espiritual consiste, neste contexto, numa fé simples na Divina Providencia que nos faz ver presente, atrás de todos os acontecimentos da vida, uma mão paternal e bondosa. Filialidade não é evasão de responsabilidades, se não protagonismo histórico e criador. É compartilhar responsabilidades com o Pai, lutar por um mundo digno de Ele.

2. A obediencia filial. A verdadeira filialidade é, em segundo lugar, docilidade, submissão à vontade de Deus, obediência ao Pai. A partir de Jesus e seguindo seus sinais, “o homem filial sabe que sua obra é grande só na medida em que corresponde ao desejo do Pai” (Deus meu Pai, 319).

É perguntá-lhe, em cada caso: Pai, o que te agrada mais? A obediência confere a infância espiritual, vitalidade e heroísmo; a faz exigente e educadora. Porque a verdadeira imagem do Pai inclui não apenas bondade, se não também força. Deus Pai pode nos causar dor, para assemelhar-nos mais a seu Filho Unigênito. Mas é sempre o amor que o impulsiona a impor-nos severas exigências.

3. O amor filial. “Os santos afirma o Padre Kentenich se fizeram santos a partir do momento em que começaram a amar, e começaram a amar só quando acreditaram, souberam e se sentiram amados por Deus” (Deus meu Pai, 248).

Nosso amor há de voltar a ser como o amor das crianças. Devemos deixar de lado nossos enredos e complicações de adultos e aprender a amar com simplicidade. Devemos tirar nossas máscaras de falsa grandeza e auto-suficiência e nos entregar com humildade sincera. Devemos passar de um amor racional e calculista a um amor espontâneo e cálido. Esta simplicidade, autenticidade e espontaneidade na entrega, cativam o amor do Pai e o atrai irresistivelmente.

Por isso há de crescer e purificar-se nosso amor. O amor primitivo gira em torno ao próprio eu e seus interesses. O amor filial maduro gira em torno ao Pai e sua vontade. E isso requer uma permanente auto-educação, uma luta diária constante, de renuncias e entregas heróicas. Mas sabemos que é o único caminho para mudar e tornarnos crianças, e assim poder entrar no Reino do Pai eterno.

Se deseja comentar o texto ou dar seu testemunho, escreva para pn.reflexiones@gmail.com

Tradução: Lena Barros de Ortiz. União de Familias no Paraguay



Vida comunitíria e sociedade - O que é o amor?

Por: Sem. Ricardo Valle Andrés

Trata-se de uma pergunta que nos deveríamos fazer todos. Amor é uma palavra que encerra um significado maravilhoso, mas tem sido desvirtuada e, atualmente, não sabemos o que significa, sendo usada sem considerar seu verdadeiro sentido. Infelizmente, foi uma palavra reduzida ao âmbito sexual e se perdeu a valiosa força que estas quatro letras encerram. Realmente amamos?

A Caridade é a terceira virtude teologal, além de ser a principal. É o amor de Deus que habita em nosso coração, amar é ter Deus no coração e compartilhí-Lo com todos. Podemos defini-la assim: “A Caridade é a virtude teologal, pela qual a pessoa ama a Deus sobre todas as coisas, por Ele mesmo (Não por interesse) e ama ao próximo por Deus ”.

Existem dois tipos de amor:

• O amor concupiscência: é uma amor por interesse próprio, ama porque considera a outra pessoa útil, agradável ou prazenteira. É o falso amor que abunda no mundo.

• O amor de amizade: é o amor de Deus. não é interessado. Ama principalmente pelo bem do outro.

O primeiro é o que nos domina, tudo fazemos desde o egoísmo, não atuamos pelo bem de nosso próximo, mas em benefício próprio. Dizemos que amamos, mas, na verdade, estamos utilizando à pessoa, esperamos que nos dê prazer, companhia, nos faça favores, a manipulamos, enfim, deixamos a palavra amor no mesmo nível de um mero sentimento.

O amor não é um sentimento, é uma ação. Quando se ama de verdade, deseja-se que a outra pessoa viva, que esta vida seja doada, proporcionar-lhe o melhor para que possa ser feliz, sua felicidade será a nossa também, porque a compartilhamos. não se espera nada em troca, a maior recompensa é saber que a outra pessoa está bem, alegre, sentindo-se amada de verdade. É entregar-se esquecendo de si mesmo.

O mandamento principal para o cristão é AMAR, já que o amor contém todos os demais mandamentos. Jesus diz, em Marcos 12, 28-31: “Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» Jesus respondeu-lhe: «O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; amarís ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o segundo: Amarís o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe».”.

Também são Paulo nos define a caridade em 1 Coríntios 13, 1-12:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!

A caridade é paciente, a caridade é bondosa. não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. não é arrogante. Nem escandalosa. não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

A caridade jamais acabarí. As profecias desaparecerão , o dom das línguas cessarí, o dom da ciência findarí. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerí. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.

Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como sou conhecido”.

Por que nos custa tanto trabalho amar? É uma pergunta que cada um deve responder, analisar como entende esta palavra e até que ponto estamos dispostos a procurar a felicidade do próximo. já não sabemos dizer a um amigo ou amiga que a amamos, pior ainda, não nos atrevemos porque o amor tem sido tão deturpado que, imediatamente, pensamos que vamos ser mal interpretados; também não o dizemos a uma pessoa necessitada, às vezes a ajudamos, mas sem nunca dizer que a amamos.

Convido a todos a meditar sobre esta palavra, que passemos do sentimento à ação, amar um amigo é querer sempre o bem dele e, se conseguíssemos amar a todos, nosso mundo seria melhor, acabaria tanta maldade e viveríamos mais felizes.

Não tenha medo de amar! Se você se sente amado por Deus e realmente ama a Deus, verí como é simples compartilhar esse amor com nossos semelhantes. não esqueçamos que todos somos filhos de Deus e, com nossas qualidades, defeitos e pecado, Ele nos ama a todos por igual.


O que significa ser “pai de muitos”?

Por: Sem. Ricardo Valle Andrés

O sacerdote e os consagrados se tornam pais de muitos, algumas vezes caímos no pecado de desejar ter filhos biológicos. É muito bonito pensar que um filho de uma pessoa vai sendo formado, vai crescendo, amadurecendo e recebe esse amor paternal que o enche de cuidados e desvelos. Ser pai de muitos é realmente difícil, é amar e preocupar-se pela salvação e pelo desenvolvimento de pessoas totalmente alheias a você – humanamente falando –, porque para Deus todos somos seus filhos e devemos nos preocupar uns pelos outros.

Ser pai biológico é um dom divino, maravilhoso, é ver seu próprio filho nascer, crescer e ir sendo formado para chegar a ser alguém na vida. O amor que um pai tem a seu filho deve ser grande por ser parte dele.

Ser “pai de muitos” é muito diferente, não são seu sangue, não têm nada a ver com a pessoa no sentido biológico. Amá-los é mais difícil, dedicar-lhes tempo, sentir como próprios seus sofrimentos, etc. É muito difícil, mas gratificante. Este ser pai de muitas pessoas implica entender o Evangelho, saber que o amor é uma ação, não um sentimento. O amor (a=sem /mor=morte) significa outorgar vida e desejar que o outro viva. Para os cristãos, o amor é o mais importante já que todos somos filhos de Deus, todos somos irmãos e temos a mesma dignidade divina. Ser pai de muitos é saber-se amado por Deus e poder transmitir esse amor recebido às demais pessoas.



Dedicar-se por completo a Deus significa esquecer de tudo?

Por: Sem. Ricardo Valle Andrés

Entregar a vida ao serviço de Deus é um dom maravilhoso, é abandonar-se completamente a Ele. Não significa esquecer de tudo, mas de encontrar um valor maior que dá sentido à vida, não ter apegos por ninguém, nem por nada. Na sociedade atual, somos bombardeados por um enorme número de distrações e podemos cair na tentação de querer e lutar por elas, esquecendo-nos do bem maior ao qual nos entregamos: Deus.

“A vocação não é uma renúncia, e sim uma entrega”

Quando uma pessoa dedica sua vida inteira a Deus, não se esquece de tudo, mas sua entrega lhe faz valorizar as coisas de outra maneira. Não tem apegos terrenos, isso quer dizer que não se preocupa com os bens materiais, também não é indispensável sentir-se amado pelos outros, prefere a plenitude do amor de Deus, para assim poder amar evangelicamente a todos.

Sua maior preocupação é ajudar as almas a encontrar a salvação, através da predicação, da escuta, do acompanhamento, da oração e do exemplo de vida.

Nos últimos tempos, predomina o valor das coisas materiais e procura-se a satisfação pessoal oferecida pela sociedade atual. O dinheiro é, para alguns, sinal de felicidade. Isto nos afasta do verdadeiro caminho cristão, esquecemos que o mais importante de possuir é poder compartilhar, nos tornamos egoístas, estamos repletos de apegos e esquecemos que existe algo muito importante que é a Providência Divina. Sendo pessoas de fé, sabemos que nunca nos faltará nada indispensável para viver e assim amar a Deus com todas nossas forças e com todo o coração.

Esquecer do supérfluo e valorizar o que é realmente importante ajuda a compreender e a entregar-se por Cristo aos demais seres humanos.


O que significa ser um sacerdote estrito?

Por: Sem. Ricardo Valle Andrés

Alguns sacerdotes acreditam que a radicalidade de sua vida implica ser radical com os outros. Este é um erro muito grave que pode afastar as pessoas de Deus. Ser radical com a própria vida nos deve ajudar a compreender quanto é difícil seguir o caminho de Deus e, por isso mesmo, compreender as outras pessoas, com amor e misericórdia.

Um sacerdote estrito. O que isso significa? Ser estrito consigo mesmo não significa exigir aos demais o que à própria pessoa está custando muito trabalho. Devemos ser radicais em nossa vida, mas devemos entender que não todos temos a facilidade de atingir essa radicalidade. O sacerdote deve ser compreensivo, amável, em uma palavra Caritativo.

As pessoas que se aproximam do sacerdote, o fazem para encontrar o amor de Deus, não os julgamentos de quem os escuta. É muito perigoso exigir às pessoas mais do que podem dar e tratá-las com muita dureza, em lugar de aproximá-las a Deus, as afastamos e, se não se afastarem, seremos responsáveis de fazê-las cair no pecado do ESCRÚPULO.

A vida de um cristão deve ser vivida com radicalidade evangélica, mas devemos fazer com que as pessoas entendam que o amor de Deus é tão grande e com Sua ajuda poderemos ser melhores, que não devemos nos afastar da graça divina, mesmo sendo pecadores e estando desorientados, desesperados e tristes.

Ser estritos nos deve fazer mais misericordiosos com os outros, mais compreensivos, posto que quando somos estritos conhecemos a dificuldade de poder levar bem esta vida, da dor necessária para enfrentar o problema de querer fazer bem as coisas e não poder facilmente, de ter metas e suar sangue para poder mais ou menos alcançá-las. Não basta o sofrimento próprio para compreender o sofrimento das outras pessoas?


Valorizar a vocação

Por: Martha Morales

O mais característico de uma vocação consiste em entregar o que se tem, o que se domina, para que Deus faça o que quiser. E Ele dá o que essa pessoa não controla. É preciso fé e humildade. Quem entrega tudo a Deus, é quem tem mais segurança, uma vida baseada na obediência da fé que faz avançar nessa escuridão luminosíssima. Abraão tinha sua segurança pessoal e era de idade avançada, mas Deus lhe pediu que saísse de sua terra, de sua segurança; quis que fizesse coisas mais elevadas.

Bento XVI diz: “Hoje, precisamos – mais que nunca – perseverar na vocação e na profissão; hoje precisamos – mais que nunca – pessoas que se entreguem por inteiro. É útil que existam pessoas que se dediquem a um trabalho durante dois ou três anos, mas também é necessário que muitas outras se dediquem inteiramente. Existem vocações que exigem a totalidade da pessoa” (Deus e o Mundo, pág. 241).

A vocação é nosso nome, é o mais profundo de cada um de nós. Ali, se esclarece quem é o homem e quem é Deus, é o modo mais exato de definir a pessoa. Temos de agradecer e amar a nossa vocação.

Dentro desta vocação, existem “pequenos chamados”, que são os de cada dia. Assim vamos sendo o que temos de ser: pessoas fiéis. Deus nos escolheu, fomos chamados. A que? A ser santos no meio das ocupações de cada dia, do pequeno dever de cada instante.

A vocação significa ir onde não sabemos, como Abraão. A vida pode ser definida como um arriscado compromisso com Deus. O chamado implica aceitar o que Deus me manda. As árvores que Deus mais ama são as que mais poda. Se contemplarmos a vida de Jesus, veremos que sofreu muito, passando por muitos sacrifícios.

Se a vocação fosse “construir-me a mim mesmo”, já não haveria esse risco, esse ímpeto de aventura. A aventura da fé se tornaria uma procura do “eu”. A vocação é resposta a Deus, não resposta a mim mesmo. É preciso ter coragem para dizer sim a Deus”. “Ao vencedor – diz o Apocalipse – darei o maná escondido e lhe entregarei uma pedra branca, na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, senão aquele que o receber” (2,17).

As “vocações pequenas”, aquelas de todos os dias, são chamados ocultos que só Deus e eu conhecemos. A vocação implica incerteza sobre o futuro, e ali está a fé. É vontade de Deus que passemos por momentos de bonança ou de tempestade. Viver com alegria todos os dias é amor de Deus. O caminho é “ir por onde não sabemos”, diz São João da Cruz. A máxima liberdade é dizer “sim” a Deus.

São Pedro disse: “Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição. Procedendo deste modo, não tropeçareis jamais. Assim vos será aberta largamente a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1, 10-11).

A maior vocação que já existiu é a da Virgem Maria. Deus chama a cada batizado a enriquecer a Igreja com a própria santidade e com o apostolado. Ele nos chama para fazer felizes àqueles que nos rodeiam. Um autor do Século de Ouro espanhol escreve: “Entre todas as cosas humanas, nenhuma há que com maior acordo se deva tratar (...) que é sobre a escolha da vida que devemos seguir. Porque se neste ponto se acerta, tudo mais será certo; e, ao contrário, se neste ponto se erra, quase tudo mais será errado”, diz frei Luis de Granada (Guia de Pecadores).

Existem pessoas que pensam que a felicidade consiste em ter o futuro controlado. Não somos tão magnânimos como Deus. Ele sabe mais. Parece que quem pode é o mais forte, mas não é assim. Quem mais pode é quem confia em Deus, embora não controle os fatores de sua vida. Se alguém não for fiel, as coisas de qualquer modo irão para frente, mas a Igreja está feita de fidelidades, de respostas afirmativas. Por isso, sempre estamos seguros em um mar turbulento.

A conscientização do chamado de Deus é o fundamento da esperança dos chamados. Peter Seewald, em 1996, fez uma entrevista ao então Cardeal Ratzinger, e lhe perguntou quantos caminhos existem para chegar a Deus. O Cardeal respondeu: “Tantos quanto homens”. Logo acrescentou: “Tenho a certeza de que Deus olhou para mim. Nesta certeza está baseada a minha vida e nela quero viver e morrer”.

O que é nossa vocação divina, não compreendemos muito. A vocação a entendemos muito pouco porque é um dom de Deus. Na medida em que tratemos o Espírito Santo, a entenderemos. O mesmo acontece com as bem-aventuranças, mas entendemos as coisas na oração. Jesus Cristo explicava muitas coisas a seus discípulos, em suas caminhadas. Também nós vamos entender mais na oração.

A felicidade se consegue saindo da lógica, isto é, dos próprios esquemas, saindo do racional. As coisas maiores foram feitas fora da rotina dos limites seguros, arriscando as próprias seguranças. Para que aconteça “o milagre” de que eu melhore, é preciso colocar diante de Deus minha debilidade, minha doença e meus limites, enquanto que Deus põe seu Poder, Bondade e Misericórdia.

A juventude sonha, almeja ideais altos, voa enfrentando as dificuldades sem medo. Quem não se lançar à aventura não faz nada de grande. Será Deus quem realizará a obra. Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.

A entrega a Deus com um coração indiviso sempre existirá na Igreja. O celibato é um dom de Deus. Para viver com alegria no caminho é preciso aprofundar a realidade de que é Deus quem chama. O Cardeal Henry Newman dizia que a vocação é viver em estado permanente de chamado.

Um dos irmãos Missionários da Caridade disse a Madre Teresa de Calcutá:

- A minha vocação é cuidar dos leprosos.

- Está equivocado, irmão – ela respondeu - sua vocação é pertencer a Jesus. O trabalho que realizar somente será uma maneira de expressar-lhe seu amor; conta menos o que você fizer.

Algumas vezes perecerá que a vocação nos supera e, no entanto, é o farol de luz. A pessoa que decide viver sua vocação, decide fazer a vontade de Deus, não um desígnio pessoal ou um plano de auto-afirmação. Jesus disse a alguns apóstolos: “Sigam-me e eu os farei pescadores de homens”. Jesus diz, em outras palavras, “mude os seus esquemas e venha comigo”. “Eu os farei”, isto é, Eu os transformarei. Deus não chama os dotados. Deus chama para dotar. Nossa Senhora não disse “Eu farei”, mas “Faça-se em mim”, e deixou que Deus fizesse.



Nada me falta!

Por: Simoni Cavazanni

A oração dirigida nos ajuda a buscar a intimidade com Deus. Durante muito tempo, utilizei na minha oração cotidiana as seguintes palavras:

“O Senhor é meu pastor. Nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar; para a fonte tranqüila me conduz e restaura minhas forças” (Salmo 23:1-3a)

Rezava com essas palavras pela manhã, procurando estar concentrada apenas no que estava dizendo. Depois, as dizia, em vários momentos do dia, durante minha jornada de trabalho, em meio ao corre-corre, para lí e para cí.

às vezes, elas [palavras] pareciam contrastantes, pois à minha volta, o cenírio parecia muito diferente: ruas intransitíveis, pessoas apressadas, lugares tristes e pesados, mas eu continuava a proclamar: “O Senhor é meu pastor (...)” e ia permitindo que essas palavras penetrassem o meu interior e tomassem conta de mim. Assim, eu ia experimentando este "pastoreio", que apesar das ruas congestionadas, do vai-e-vem das pessoas apressadas e dos lugares tristes não me contam a verdadeira história do que eu sou.

Não pertenço a este mundo materializado, nem mesmo aos poderes que o governam. Eu sou do meu Pastor, Ele me conduz, por isso nada me falta. Ele me leva para a fonte tranqüila e restaura as minhas forças. Na presença do Senhor não existe mais nada que eu queira. De fato, Ele me dá o descanso por que meu coração anseia e me tira de toda a escuridão da depressão.

É bom saber que milhares de pessoas vêm utilizando essas palavras desse Salmo durante séculos e nelas encontram descanso e consolo. não estou sozinha, muitos em algum momento de suas vidas, tiveram a mesma experiência que eu ao ler e rezar assim. Tantos homens e mulheres fizeram destes versículos sua oração mais íntima com o Pastor de suas vidas, e eu, agora, posso neste tempo, unir-me a elas na certeza de que estas palavras continuarão a ser recitadas por todos os séculos.


Palavra de vida

Por: Fabio Ciardi e Gabriella Fallacara

“Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesús.” (Hb 12,1-2)

Na vida dos cristãos aos quais se dirige a Carta aos Hebreus não faltam provações e sofrimentos. Isso às vezes poderia levá-los ao desânimo: por que não escolher uma trilha mais fícil, por que não se render?

Contudo, o autor da carta convida a prosseguir no percurso iniciado. É difícil, custa; porém, o caminho que conduz à plenitude da vida é o do Evangelho. Mais ainda, o escritor encoraja os cristãos a correr e a permanecer firmes, mesmo debaixo do peso dos sofrimentos.

Como todo atleta que almeja atingir uma meta, também cada um de nós que decide seguir Jesus precisa da perseverança, ou seja, da resistência, da capacidade de não ceder, fruto da nossa convicção de que Deus está conosco, e da firme deciSão de querer alcançar o nosso objetivo.

Na verdade, somos convidados de modo especial a manter o olhar bem fixo em Jesus, que nos precedeu nesse caminho e se coloca como nosso guia. De fato, Ele, na cruz, sobretudo quando se sente abandonado pelo Pai, é o modelo da coragem, da perseverança, da suportação: Ele soube permanecer firme na provação e voltou a abandonar-se nas mãos do mesmo Deus pelo qual se sentia abandonado.1

“Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus.”

Muitas vezes Chiara Lubich fala de Jesus como aquele que enfrenta a sua maior provação com coragem, sem render-se: Ele é o modelo da nossa corrida, o modelo de como se superam as provações. Cada provação da nossa vida, cada sofrimento nosso, já foi assumido por Jesus no seu abandono na cruz.

Deixemos que Chiara mesma nos indique como podemos manter o nosso olhar fixo em Jesus.

“Estamos tomados pelo medo? E Ele na cruz, no seu abandono, por acaso não se mostra dominado pelo medo de que o Pai se tenha esquecido Dele?”

Quando o desconsolo e o desânimo nos invadem, podemos também olhar para Jesus na cruz, pois naquele momento Ele “parece dominado pela impressão de que na sua paixão lhe falta a consolação do Pai e parece estar perdendo a coragem de suportar até o fim a sua dolorosíssima provação (…). As circunstâncias nos deixam desorientados? Jesus, naquela tremenda dor, parece não compreender mais nada do que lhe está acontecendo, tanto é que grita ‘por quê?’ (…). E quando uma desiluSão nos atinge de surpresa ou somos feridos por um trauma, ou por uma desgraça inesperada, ou por uma doença, ou por uma situação absurda, podemos sempre recordar o sofrimento de Jesus Abandonado que já personificou todas essas e uma infinidade de outras provações”.2

Ele está ao nosso lado em toda dificuldade, pronto a partilhar conosco cada sofrimento.

“Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus.”

Como, então, podemos viver essa Palavra? Olhando para Jesus e habituando-nos a “chamí-lo pelo nome nas provações da nossa vida. Portanto, lhe diremos: Jesus Abandonado-solidão, Jesus Abandonado-dúvida, Jesus Abandonado-mágoa, Jesús Abandonado-provação, Jesus Abandonado-desolação, e assim por diante.

E se o chamarmos pelo nome, Ele perceberí que o descobrimos e o reconhecemos em cada sofrimento, e nos responderí com mais amor. E se o abraçarmos, Ele se tornarí, para nós, a nossa paz, a nossa consolação, a coragem, o equilíbrio, a saúde, a vitória. será a explicação para tudo e a solução de tudo.”3

“Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus.”

Foi o que aconteceu com Luísa, anos Atrás, quando ela encontrou um folheto que comenta essa Palavra de Vida. Ela mesma conta: “De repente chega a terrível notícia: meu primeiro filho, de 29 anos, sofreu um acidente de automóvel e está muito grave. Corro ao hospital com o coração na mão. Encontro meu filho imóvel, ausente. Fico desesperada. Enquanto passo dias de espera angustiada, entro por acaso na capela do hospital. Lí encontro a Palavra de Vida, que me convida a manter o olhar em Jesus Abandonado. Leio-a atentamente. Sim, digo a mim mesma, ela se refere justamente à minha situação… A UTI, que para mim sinalizava o fim de qualquer esperança, não é mais um lugar de martírio. É uma ponte para o amor de Deus. E, enquanto seguro a mão de meu filho, encontro a força de rezar por ele, que está me deixando. Ele morreu e nunca o senti tão vivo”.


1) Cf. Mc 15,34; 2) Cf. Companheiro de viagem, são Paulo : Cidade Nova, 1988, p. 173-174; 3) Ibidem, p. 174-175.



Apóstolos da Aliança de amor

Por: Padre Nicolás Schwizer

Por que o homem de hoje está tão pouco captado por Deus, tão pouco penetrado por seu espírito? O Padre Fundador o explica: É porque tudo fica na cabeça e não chega até o coração. O coração fica fechado e endurecido.

Qual é então o sentido de nossa Aliança de amor? O sentido é que lhe entregue a Mãe de Deus meu coração: intercambio de corações. O que Ela faz com meu coração? Leva-o a Cristo, leva-o ao Pai. O sentido final da Aliança é: dar a Cristo, a Deus meu coração.

Qual é, por isso, nossa tarefa? Se nós quisermos ser de Cristo, pertencer-lhe para sempre, temos que levar a sério nossa Aliança na vida diária. O que significa também fazer valer nossas exigências de amor para com a Mãe de Deus: pedir-lhe que acenda em meu coração, no grau mais alto possível, o amor a Cristo, amor a Deus.

E a Mãe de Deus está obrigada a fazer-lo. Porque é o sentido da Aliança de amor. Peçamos, então, conscientemente no Santuário que nos regale essa graça de um coração animado por Cristo.

Vejamos outro aspecto. Deus quer que por meio da Aliança, o homem de hoje possa curar-se novamente. Porque o homem moderno está enfermo. O Padre Kentenich sinaliza que no homem atual existe uma grande incapacidade de vivencia religiosa; que nele se dá um amplo bloqueio da vida afetiva frente a Deus.

E a ferida mais profunda em sua afetividade é a incapacidade de dar e de receber amor. O homem de nosso tempo, afirma o Padre Fundador, é uma espécie de faquir no campo do amor, padece de uma anemia aguda na qualidade de seus vínculos pessoais.

Uma das grandes metas para o homem de amanhã há de ser, por isso, ganhar o afeto ou o coração para Deus.

As verdades de fé devem chegar a ser vivencias de fé. Necessitamos sentir as verdades de fé, tocar-las em forma sensível. Necessitamos palpar a fé feita vida em uma pessoa ou em uma comunidade. A partir destas vivencias, que hão captado nosso coração, criam-se os vínculos afetivos que nos atam a Deus e ao mundo sobrenatural.

E aqui surge então a importância decisiva de nossa Aliança de amor com a Mãe de Deus. O amor conhece uma transmissão de vida. Se, amo a Maria, Ela me transmite sua vida. Em sua pessoa está impressa a mais pura e cálida afetividade. Se, me vinculo filialmente a Ela, então se despertam em mim afetos, me brinda seu próprio amor a Deus e aos outros. Por meio da Aliança vou aprendendo a amar como Maria e todo o que Ela ama.

È, por isso, o caminho para curar ao homem de hoje, facilitar a ele vivencias religiosas profundas, ganhar seu afeto e seu coração para Deus e para o mundo sobrenatural. Devemos, por isso, levar nossos irmãos à Aliança de amor. Devemos despertar e animar o amor a Maria neles.

Só por meio dessa vinculação cálida a Ela vão começar a imitar-la em sua atitude e seu comportamento. O Padre fundador nos pede que todos sejamos apóstolos da Aliança de amor. Seu desejo é que todo mundo chegue a fazer a Aliança, que todo mundo descubra a riqueza de compartilhar a vida com Maria.

Temos que convidar nossos familiares, amigos, parentes e companheiros de trabalho a fazer Aliança de amor.

Perguntas para a reflexão

1. A quantas pessoas já levei a AA?
2. Como vivo minha Aliança com a Mãe de Deus?
3. É Maria, minha educadora?



O celibato: perda ou ganho?

Por: Paulina Monjarraz

• Feitos para amar

“Deus nos amou primeiro”. Esta é uma frase que, com certeza, escutamos ou lemos na Epístola de são João: “Deus nos amou primeiro”, se nos déssemos conta do significado desta realidade, nosso coração explodiria e tudo passaria a adquirir um sentido pleno, até mesmo nossas tristezas e angústias – talvez sem deixar de senti-las – teriam sentido e não nos levariam ao desespero.

O Amor absolutamente gratuito e original de Deus é a razão pela qual todos os seres humanos têm uma profundíssima necessidade de ser amados e de amar. Todos precisamos amar porque estamos feitos por e para o Amor. Realmente, a maioria ou quase todos os grandes males de nosso mundo têm sua origem em uma carência ou falta de amor. Para alguns, poderia parecer uma solução brega e, inclusive, ingênua, pensar que o amor é a grande solução de nosso mundo, mas não é assim, porque não é uma solução fácil ou light, é – na verdade – “a solução” que está implícita em toda a doutrina de salvação de Jesus Cristo. É dentro deste contexto de redenção, de salvação, que se deve compreender o “por quê” e o “para quê” da “renúncia” ao amor conjugal das pessoas, seja para consagrar-se a Deus ou para viver o celibato apostólico.

Alguns poderão perguntar se é correto falar em termos de “renúncia”, pela carga negativa que tem esta palavra. Certamente, a renúncia implica deixar algo, sim, mas isso não significa perder sem ganhar. Seria mentiroso dizer que não se deixa algo, sobretudo algo tão apreciado e abençoado por Deus, como é o amor conjugal, no entanto, essa renúncia é deixar o menos pelo mais.

• Perda ou Ganho?

Por que o menos pelo mais? Os casados serão menos santos do que os celibatários? Não, aqui não estamos falando em termos de santidade pessoal, porque a santidade pessoal é a correspondência à graça que Deus nos deu, portanto, ninguém é mais ou menos santo pelo estado ou pela vocação à qual Deus o chamou, mas por sua correspondência a esta vocação. No entanto, falar de celibato ou consagração significa ir além de nossa disposição natural ao correto amor entre um homem e uma mulher, significa mover-se em uma dimensão sobrenatural e, por isso, ultrapassa as forças e disposições puramente humanas. Portanto, o celibato é um dom de Deus, uma graça que Ele acrescenta à nossa natureza para que esta renúncia seja possível e amável; para que seja um ganho e não uma perda.

Portanto, a pessoa que decide responder a este chamado de Deus não é alguém que não ama ou que não tem os mesmos desejos e necessidade de amar e de ser amado daqueles que decidem se casar. Não, ao contrário, esta pessoa chamada por Deus dilata mais sua capacidade de amar e de ser amado porque dedicará todas as forças de seu corpo e de seu espírito para fazer chegar o amor de Cristo a todos os lugares, todo tempo, a cada ser humano, sem que nenhuma outra obrigação tenha prioridade sobre esta.

• Celibato e sexualidade

No entanto, uma mulher ou um homem que vivem o celibato poderiam pensar ou perguntar-se, com toda simplicidade e sinceridade, então, para que serve meu corpo, para que minha sexualidade, se eu não serei mãe ou pai? Em primeiro lugar, é preciso redimensionar ou localizar nossa própria corporeidade, é importante compreender que o ser humano é uma unidade de corpo e alma, na qual o corpo não é um estorvo para o espírito ou uma ocasião de pecado. É preciso afirmar o sentido positivo e real de nossa corporeidade e, assim, podemos dizer com certeza: “Eu sou meu corpo”, embora não somente meu corpo. Não obstante, talvez o erro incluso nesta pergunta seja uma redução do corpo à sexualidade e uma redução da sexualidade à pura corporeidade. O fato de não exercer nossa sexualidade para engendrar não quer dizer que não exerçamos nossa masculinidade ou nossa feminilidade. A pessoa não “tem um sexo”, pelo contrário, é uma “pessoa sexuada”, o que significa que somos homens e mulheres em todo nosso ser, não somente em algumas partes de nosso corpo. Assim, tudo o que fazemos: sentir, trabalhar, pensar, sorrir, etc., o fazemos como homens ou como mulheres. Portanto, também esse serviço ou doação aos demais seres humanos, para levar-lhes o amor de Cristo, é feito com toda nossa masculinidade ou com toda nossa feminilidade.

Quando o primeiro mandamento nos diz: “Amarás a Deus com todo seu coração, com toda sua alma e com toda sua mente”, nos está dizendo que o amor a Ele não é um amor que nos reprima ou nos encha de proibições e muito menos que anule nossa masculinidade ou nossa feminilidade. Ao contrário, as plenifica em seu sentido original, mandado desde o Gênesis, “de ser fecundos”, porque essa “renúncia” não anula o amor, mas o expande a todos aqueles que – mesmo tendo sido gerados na carne, sem amor – poderão receber o amor de Cristo por esta “renúncia” que permite sempre dar mais... Um exemplo próximo e amável deste desenvolvimento da maternidade na vida consagrada, podemos ver maravilhosamente encarnado na madre Teresa de Calcutá, que pôs todo seu coração de mulher em amar todos essas crianças, cujos pais não puderam ou não quiseram amar e acolhê-las.



As três tentações

Por: Padre Nicolás Schwizer

A Quaresma é um tempo privilegiado para afinar a meta de nossa vida e repassar nossos objetivos. Às vezes resulta uma revisão dolorosa e que exige sacrifícios.

Jesus também passou por isso. Duvidou, buscou, foi tentado, ao largo de sua vida, e se impôs pela força e poder. Reflexionemos sobre suas três tentações e veremos que são as nossas também.

1. A primeira, poderíamos chamar de tentação do consumo. "Diga que estas pedras se convertam em pão". É dizer, se quiseres, podes dar de comer a todos os homens. Sofrem, têm fome, não têm trabalho - podes assegurar-lhes o bem estar material que desejam. Podes fazer milagres, o "milagre econômico".

Ele responde: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus". Mas Jesus não nos pede que nos desinteressemos dos bens temporais. No Pai Nosso nos faz pedir: "Dá-nos hoje nosso pão de cada dia". Temos que lutar pelo pão de cada dia. Temos que lutar por nós e por todos os homens.

O que o Senhor nos pede é lutar contra a alienação do consumo e contra a ilusão de crer que a felicidade do homem coincide com a meta do consumo. Ele nos diz que o coração do homem reclama outros alimentos diferente do "ter". E os pais entre nós sabem muito bem que seus filhos não só necessitam bem estar material, mas que precisam também de seu tempo, sua atenção, sua palavra e seu amor.

Como uma criança, o homem necessita do amor de Deus seu Pai, desse Deus que falou e que tem algo que dizer-nos. E enquanto os homens não escutem esta palavra e enquanto não tratem de vivê-la, persistirá neles uma fome insatisfeita que os converterá em homens subalimentados e infelizes.

Todos formamos parte de nosso mundo e de nossa sociedade. E todos somos escravos do consumo, de uma ou outra forma: Pensemos no nosso carro, esse pequeno deus; no conforto da casa; nos brinquedos das crianças nos livros, que tal vez nunca serão lidos; em nossos vestidos e nossa roupa, etc. Temos fome de pão, fome de coisas materiais. Mas, temos também fome de Deus?

2. A segunda tentação de Jesus é a tentação do poder, a tentação de utilizar a força de seu Pai em proveito próprio. Mas Ele a rejeita: "Não tentarás ao Senhor, teu Deus". É dizer: Tu não exigirás que Deus se coloque a teu serviço. Tu és quem há de servi-lo. A força de Jesus consiste em colocar-se plenamente a disposição de seu Pai, para servir aos irmãos.

Nós não nos livramos da tentação de utilizar a Deus, de colocá-lo a nosso lado, é dizer, de metê-lo em "nosso bolso". Quantas vezes, a través da história, grupos humanos, nações, governos, exércitos ou partidos políticos tentaram aproveitar-se dos cristãos, da Igreja, de Deus, para levar a cabo seus próprios projetos!

E nós mesmos, não rezamos muitas vezes o Pai osso às avessas: "Pai nosso que estais no céu, faça-se minha vontade”. É dizer, nos colocamos no centro, nos fazemos deus, no lugar dEle. E quantos homens se afastam assim de Deus, porque Deus não os obedeceu!

3. A tentação da idolatria. Tal vez pensemos: esta vez não me toca, são os pagãos os que adoram aos ídolos. Mas também em nosso mundo de hoje surgiram muitos ídolos: Desde o grande ídolo do dinheiro que adoramos todos, um pouco mais… ou menos. Até a multidão de ídolos ante os quais nos ajoelhamos diariamente: o maço de cigarros, ou a boa comida, a televisão, a moda, nosso corpo, também nossas idéias ou projetos.

Todos esses deuses fazem que pouco a pouco, e talvez sem dar-nos conta, vivamos inclinados, incapazes de viver de pé e de poder ajoelhar-nos livremente ante o único Deus.

Perguntas para a Reflexão

1. Por que tipo de felicidade estou lutando?
2. Que mundo estou construindo?
3. Sou "explorador" de Deus, ou sou seu servidor e servidor de meus irmãos?



Seja ridáculo! O catolicismo público foi para a “cucuia”?

Por: Patrícia Medina - fundadora da Obra Oblata Christus Sacerdos

Cena 1: Uma família almoça num grande shopping da cidade num domingo. Após terem colocado suas bandejas nas mesinhas, a numerosa família faz o Sinal da Cruz e, mãos em prece, reza antes de iniciar a refeição. A família atrai não poucos olhares e cochichos.

Cena 2: Um médico ginecologista, ao ficar sabendo da 4a gravidez de uma mulher, sugere uma laqueadura. Ela lhe responde “Não, sou católica”. O médico, espantado, diz: “e daí, eu também!”.

Cena 3: Num curso de noivos aqui em Curitiba, um casal orgulhosamente se declara “católico-espírita”. E acredita piamente que não só isso é possível, como também correto e ideal!

Cena 4: Ao entrar num estacionamento no centro da cidade, o manobrista, vendo uma mulher vestida com uma saia longa, pergunta: “A senhora é de que igreja?”. A senhora em questão era católica.

O que estas cenas tem em comum, além de serem reais? A dificuldade cada vez maior de respirarmos e vivermos em ambiente católico, ou seja, de vivermos uma vida orientada pelos valores e práticas católicas. Vamos e venhamos: não vivemos mais num mundo orientado pelos valores cristãos. Estamos carecas de saber! Mas o que estamos fazendo para mudar isso? Temo que nós, católicos, leigos, religiosos, padres, todos estejamos nos tornando conformistas!

E por que estamos nos conformando? Porque é mais fícil! Vejam bem! “Comprar o pacote” do catolicismo hoje em dia é ser ridáculo! Sinal da Cruz em público? Que ridáculo! Muitos filhos? Que ignorância! Rezar o terço no ônibus? Que patético! Afirmar e defender a teologia moral da Igreja Católica? Que “pouco inclusivo”! Ajoelhar-se? Que pouco digno! O católico que não incomoda é aquele que não defende sua Igreja nem se deixa afetar interna e externamente pelas exigências do Evangelho. É o católico reprimido, escondido, disfarçado.

E qual é a solução? Chamo a solução de “Martírio do ridáculo”. É martírio porque envolve uma defesa da fé. Uma defesa plena, consciente, sem vergonha “de estar no mundo sem ser do mundo”. É um martírio “do ridáculo” porque, ao expressar externamente todas as conseqüências da minha piedade, o mundo me julga e assim, por causa do meu orgulho, eu sofro. Mas esse sofrimento é bom e desejável!

O martírio do ridáculo, assim como o martírio de sangue, nos leva a Deus. Só que nos mata um pouco a cada dia, além de matar o nosso orgulho. Assim, porque assistir (e depois comentar) novelas que desgraçam o catolicismo e a vida religiosa? Porque calar quando tantas almas podem se beneficiar pela sua defesa pública da fé? Porque admitir uma moralidade permissiva aos filhos adolescentes só pelo medo de “ser careta”? Porque falar de gnomos, signos, reencarnações e todo tipo de tolice é aceitível e respeitado, mas falar do céu é “ingenuidade piedosa”? Por quê? Porque é mais fícil? Ora, pelo que me consta, o fácil não leva ao céu. A cruz, no entanto, leva!

Católicos! Sejamos ridáculos! Padres, sejam muito ridáculos! Religiosos, sejam ridáculos! Os santos foram ridáculos aos olhos do mundo, mas sábios aos olhos de Deus! Quando perdermos o medo do ridáculo, começaremos a amar a Deus com mais coragem e menos orgulho.



O discernimento da vocação sacerdotal

Por: Alfredo Navarrete C.

Deus chama, a Igreja deve discernir.

O sacerdócio é um dom livre que vem de Deus, portanto, ninguém pode determinar a quem Ele deve chamar e a quem não. Como princípio, as portas do seminário estão abertas a todos os que se sentem chamados. Não há discriminação ou seleção infundada.

Mas o sacerdócio é um ministério eclesial e, como tal, algo que a Igreja deve “ligar ou desligar” (Mt 18, 18). Não necessariamente todos os que batem à porta do seminário têm uma verdadeira vocação. É imprescindível um trabalho de discernimento.

No fundo, todo o período de formação, especialmente no início, é um período de discernimento, tanto dos responsáveis pela formação, como do próprio candidato, é importante que seja bem analisada a possibilidade de que exista vocação no momento de admitir um jovem em um centro formativo.

Importante, antes de mais nada, para o próprio candidato. O respeito que qualquer jovem merece exige que ele seja convidado ou admitido ao seminário somente se houver indícios claros de que esse é o caminho de sua vida. Seria injusto admiti-lo sem critérios para logo ter de dizer-lhe que esse não é seu lugar, com os traumas, atrasos em sua carreira, etc., que esta experiência poderia acarretar.

Importante também para os demais candidatos. Um seminarista que se sente desorientado, que não se identifica com a vocação sacerdotal, pode ser um elemento negativo no seminário. Se são numerosos os candidatos inseguros, reticentes ou sem as devidas qualidades, será difícil conseguir o ambiente formativo que comentávamos no capítulo anterior.

Discernimento, portanto, sério e atento. Também quando se tem a impressão de que as vocações são escassas. O que é preciso então é encontrar jovens com verdadeira vocação, não jovens que comecem, sem ela, um caminho que não deveriam iniciar. Não se trata simplesmente de preencher vagas em uma instituição humana, mas de acolher aqueles que são chamados pelo Senhor. A pergunta de fundo, portanto, será sempre: este jovem terá sido verdadeiramente escolhido por Deus?

Critérios para um correto discernimento vocacional

A resposta a essa pergunta tem somente o “dono da messe”. Não existem sistemas para detectar infalivelmente a presença de uma vocação sacerdotal, por isso, o primeiro dever de quem tem a delicada responsabilidade de admitir os candidatos é rezar. Pedir com humildade a luz do Espírito divino para que ilumine sua mente e a mente do jovem que deseja ingressar ao seminário.

No entanto, pode-se contar com alguns critérios que ajudarão a descobrir a vontade de Deus, na medida em que isto for possível. Em cada circunstância diversa, segundo os tempos e lugares, será preciso considerar certos fatores concretos e específicos, mas pode-se também falar de alguns critérios gerais que se derivam da própria natureza da vocação e da missão sacerdotal, além das exigências da formação necessária para essa vocação e missão.

Podemos agrupá-los em relação a dois critérios globais que estão intimamente relacionados: o julgamento sobre a idoneidade do candidato, e o julgamento sobre a existência real do chamado divino.

Discernimento da idoneidade do candidato

• Conhecimento do candidato

Portanto, a primeira coisa é conhecer bem a índole do jovem que pede para entrar ao seminário. Isso significa que a pessoa encarregada pela admissão deve falar com ele calmamente e, se for possível, várias vezes. Muito ajuda também o conhecimento de sua família e de seu ambiente social, às vezes, podem ser sumamente reveladores. Conhecer o candidato é conhecer também sua história: a educação recebida, trajetória espiritual e humana, alguns eventos ou situações que possam condicionar seu futuro, etc.

A psicologia pode, da mesma forma, dar uma ajuda neste campo. Não parece exagerado considerar que, sempre que for possível, se deveria fazer um bom exame psicológico antes de decidir definitivamente uma admissão. Um exame sério e científico, realizado e interpretado por um psicólogo que – além de sua competência profissional – demonstre conhecimento e estima da vocação sacerdotal. Se o psicólogo for sacerdote, melhor ainda. Em alguns casos especialmente duvidosos ou difíceis, poderia ser aconselhável também uma entrevista pessoal com um psicólogo que reúna as condições que acabamos de mencionar.

Tudo isso indica que a admissão de um aspirante não pode ser precipitada, exige-se um tempo suficiente para conhecê-lo e, inclusive, para que ele mesmo se conheça melhor em relação ao passo que pensa dar. Às vezes, esse tempo se prolonga ao longo de todo o período do seminário menor; outras, consiste em um processo de amadurecimento da idéia vocacional com a direção de algum sacerdote conhecido, ou ainda freqüentando o próprio seminário. Em alguns lugares, são realizados cursilhos vocacionais, úteis também para esta necessária etapa de discernimento.

• Saúde física e mental

A idoneidade para o sacerdócio compreende diversos aspectos da pessoa. Antes de tudo, se requer uma saúde física suficiente para poder levar as exigências da vida de formação no seminário e colaborar depois, como operário diligente, na vinha do Senhor. Poderia haver algumas exceções em alguns casos determinados, mas deveriam ser realmente exceções, e serem motivadas por razões importantes.

Mais difícil de avaliar, mas não menos decisiva, é a idoneidade psicológica. Não é o momento de nos deter para comentar os diversos aspectos implicados neste campo, mas basta recordar que é preciso contar com uma psicologia sã para que se possa pensar na existência da vocação. O sacerdote é chamado a orientar e guiar às outras pessoas. Poderia ser aplicada aqui, estendendo um pouco o sentido, a pergunta de Paulo em sua primeira carta a Timóteo: «Pois quem não sabe governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus?» (1 Tm 3, 5).

Podem surgir casos de pessoas com uma psicologia que, dentro da normalidade, dá indícios de ser débil, complicada ou instável. O responsável pela admissão ao seminário não sempre poderá discernir, de um momento para outro, se existe ou não idoneidade. Prudência, sensatez, experiência e talvez um pouco de tempo darão a melhor resposta.

Resulta mais fácil discernir quando se trata de casos que se aproximam ou entram no âmbito da patologia. Estando diante de um caso de psicose, a decisão é clara: não há cura possível; é inútil enganar-se ou enganar o jovem. Havendo somente sintomas de algum tipo de neurose, se teria que analisar muito bem o caso para chegar a uma conclusão conveniente. De qualquer modo, neste campo não se pode proceder superficialmente porque as conseqüências poderiam ser graves. Se existirem dúvidas sobre a admissão, será preciso contar com a colaboração de especialistas.

• Algumas virtudes fundamentais

Seria absurdo pretender que quem ingressar ao seminário possua as virtudes e qualidades do sacerdote ideal. Se fosse assim, já não seria útil o período do seminário. No entanto, é fundamental que o candidato possua uma base humana e cristã suficientes para que seja possível construir, sobre este alicerce, o edifício da formação sacerdotal. O principal, portanto, não é que o candidato já possua as virtudes do bom sacerdote, mas que tenha a capacidade de adquiri-las.

Por outro lado, existe uma série de virtudes e qualidades que são necessárias para que o jovem candidato possa segui-las com proveito até chegar à ordenação. Pensemos, por exemplo, na sinceridade. Uma pessoa de duas caras e insincera dificilmente poderá amadurecer adequadamente, se submeterá – talvez – a algumas normas externas enquanto não o estiverem vendo, mas nunca viverá o imprescindível processo de auto-formação. Da mesma forma, é fundamental a capacidade de viver comunitariamente e de colaborar com as outras pessoas. Se um jovem, por seu temperamento ou sua educação, for radicalmente incapaz de conviver, compartilhar, dialogar, colaborar, é difícil pensar que conseguirá se formar devidamente em um ambiente que é comunitário e que, futuramente, como sacerdote, saberá ser aberto aos demais para servi-los durante o exercício de seu ministério.

É conveniente também que exista um fundamento sobre o qual construir a identidade espiritual do candidato. Ele precisa de, pelo menos, um mínimo de conhecimento e vivência da fé, além da capacidade de viver com coerência a vida da graça: o sacerdote é o homem de Deus, o ministro que aproxima os homens da vida divina e a restitui com o perdão quando eles a perdem. Se um jovem se apresentar com costumes de pecado tão arraigados que parecerem realmente insuperáveis, se terá de pensar seriamente antes de deixá-lo prosseguir. Não se deve desconfiar da potência divina, mas também não devemos tentar a Deus.

• Capacidade intelectual

É preciso também analisar a capacidade intelectual do aspirante. Chamado a ser professor e guia, ele terá que se preparar profundamente em campos que exigem uma dedicação acadêmica séria, como a filosofia e a teologia. A história da Igreja nos revela casos eloqüentes de sacerdotes santos, porém com escassos dotes intelectuais. No entanto, não se deve menosprezar este requisito. Seria injusto admitir um jovem que pudesse depois se sentir frustrado diante das dificuldades dos estudos sacerdotais, ou que tivesse de deixar o seminário por não ter a suficiente capacidade para completar os estudos.

Quanto à formação acadêmica prévia, normalmente é preciso procurar que o aspirante ao seminário maior esteja dotado da formação humanística e científica com a qual os jovens de sua própria região se preparam para realizar os estudos superiores[2].

• Ausência de impedimentos canônicos

Um último parâmetro exigido para medir a idoneidade do aspirante será a atenção aos impedimentos perpétuos ou simples que o direito canônico estabelece para ter acesso às ordens[3]. Seria inútil e irresponsável admitir ao seminário alguém que não poderá chegar à meta deste caminho.

Discernimento da existência do chamado

A presença das qualidades exigidas para o sacerdócio é necessária, mas não suficiente. Não basta constatar que um jovem tem as qualidades e condições necessárias para admiti-lo ao seminário. É preciso ver se realmente existe uma “vocação”, porque aqui o termo “vocação” não se refere a uma tendência humana a uma ou outra ocupação profissional. Aqui o sentido da palavra é estrito: trata-se de um chamado divino, histórico e pessoal.

No entanto, se é difícil discernir a idoneidade objetiva do candidato ao sacerdócio, muito mais será compreender se existe ou não o chamado divino. Ali se trata do mistério do homem, aqui estamos diante do mistério de Deus.

• Reta motivação

O primeiro a levar em conta é a motivação que induz o jovem a fazer sua petição, para poder compreender se está fazendo assim porque considera que foi chamado, ou por alguma outra razão.

É preciso que seu gesto seja completamente consciente e livre. A existência de um condicionamento sério, externo ou interno, deve levar à cautela. Se faltasse liberdade, seria preciso evitar que desse esse passo.

Deve-se constatar, portanto, que o aspirante saiba bem, na medida do possível, o que significa e envolve a vocação e a vida sacerdotal. Comprovar que não está pedindo para entrar ao seminário levado por alguma pressão – por exemplo, de um familiar – ou por causa de uma frustração ou desengano amoroso, ou ainda movido pelo medo do mundo e das lutas que implica enfrentá-lo.

Não somente: existem casos – atualmente muito menos, mas existem – de jovens que pedem para entrar ao seminário para fazer carreira. É preciso estar atentos, de modo particular, quando os pais de um rapaz estão empenhados em que seu filho ingresse ao seminário menor: poderia se tratar somente de uma tentativa de fazê-lo estudar em um centro bom e econômico. Permiti-lo seria desvirtuar o sentido do seminário e diminuir sua eficácia formativa em relação aos que lá estão pensando no sacerdócio; talvez também seria prejudicar o próprio jovem, que se sentiria forçado a viver em uma situação de engano e em um ambiente com o qual não se identificaria.

• A voz de Deus

Vamos supor que o jovem vem com a reta intenção de ser sacerdote porque crê que Deus o chama. Um primeiro conselho indispensável é sugerir que ele intensifique sua vida de oração, para depois analisar juntos seu desejos e motivações. Servirá para detectar possíveis fenômenos de auto-sugestão, pressão ambiental, etc., servirá também para ajudar o futuro seminarista a aprofundar sua experiência de escutar a voz de Deus. Uma experiência que poderá ser definitiva para o resto de sua vida de seminarista e de sacerdote. Às vezes, Deus se faz ouvir no interior da pessoa, de modo íntimo e direto.

Outras vezes, Deus fala sobretudo através de circunstâncias, marcantes ou aparentemente insignificantes. Em certas ocasiões, Sua voz ressoa vigorosa e insistente no coração do jovem; outras vezes (a maioria) é como uma brisa suave, quase imperceptível (cf. 1 R 19, 12b). A uns o Espírito lhes faz experimentar o amor de Cristo que merece tudo, a outros os ajuda a ver lucidamente que a messe é grande e os operários são poucos; a outros, os convida a simplesmente seguir a vocação para a qual foram criados. Uns jovens vêm entusiasmados com sua vocação, outros gostariam de se rebelar contra a vontade divina, mas não podem ir contra o Onipotente. Existem aqueles que vêem tudo com uma claridade diáfana, e outros que somente suspeitam que podem ter sido chamados...

Neste campo, não há que procurar certezas absolutas, nem pedir evidências. Basta uma faísca, basta essa suspeita, para poder e ter que dizer: “Vejamos”. Na verdade, toda a etapa de formação, sobretudo os momentos iniciais, é um período de discernimento vocacional. Se Deus não chama, mas permite que a generosidade de um jovem o leve a empreender esse caminho, por algum motivo será... Nunca será um erro, aos olhos de Deus, o desejo e a decisão de um jovem de dar-Lhe tudo!

[1] Cf. Marcial Maciel, La formación integral del sacerdote, p. 234-241.

[2] CIC 234 §2; cf. RFIS 16.

[3] Cf. CIC 1040-1403.



Cardeal Van Thuan, testemunha da esperança

Por: Maria Auristela B. Alves

O Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan teve como lema de vida a esperança que enche de amor o momento presente. Mantido prisioneiro pelo regime comunista durante 13 anos, 9 dos quais em total isolamento, não ficou de “braços cruzados” esperando a libertação; ao contrário, com a criatividade própria do amor, fez-se amigo dos carcereiros, construiu para si um crucifixo, celebrou a eucaristia clandestinamente e escreveu três livros. Depois de uma vida luminosa, morreu vitimado pelo câncer em setembro de 2002.

Francisco Nguyen Van Thuan nasceu no dia 17 de abril de 1928, numa família que conta numerosos mártires da fé. Sua mãe, todas as noites, contava-lhe histórias bíblicas e narrava-lhe testemunhos de mártires, especialmente de seus antepassados.

Van Thuan foi ordenado sacerdote em 11 de junho de 1953. Formado em Direito Canônico, em Roma, retorna ao Vietnã e é nomeado professor e reitor do seminário.

Em 1967, é ordenado Bispo de Nhatrang, no centro do Vietnã, diocese pela qual sempre confessou predileção. Oito anos depois, Paulo VI o nomeou Arcebispo coadjutor de Saigon. Ardoroso animador dos leigos e jovens, prepara-os para participarem dos conselhos pastorais.

Poucos meses depois, porém, foi preso pelo regime comunista: “Disseram-me que minha nomeação era fruto de um complô entre o Vaticano e os imperialistas para organizar a luta contra o regime comunista”, conta Van Thuan. Era o dia de Nossa Senhora da Assunção, 15 de agosto de 1975.

Rumo à prisão, tomou uma decisão importantíssima: “Vinham-me à mente muitos pensamentos confusos: tristeza, abandono, cansaço depois de três meses de tensões... Porém, em minha mente surgiu claramente uma palavra que dispersou toda a escuridão, a palavra que Monsenhor John Walsh, Bispo missionário na China, pronunciou quando foi libertado depois de doze anos de cativeiro: ‘Passei a metade da minha

vida esperando’. É verdadeiríssimo: todos os prisioneiros, inclusive eu, esperam a cada minuto sua libertação. Porém, depois decidi: ‘Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor’.”

De fato, foi o que fez: amou, amou, amou. As condições não eram favoráveis. Durante alguns meses esteve confinado numa cela minúscula, sem janela, úmida, que para respirar passava horas com o rosto enfiado num pequeno buraco no chão. A cama era coberta de fungos.

Os nove primeiros anos foram terríveis: “uma tortura mental, no vazio absoluto, sem trabalho, caminhando dentro da cela desde a manhã às nove e meia da noite para não ser destruído pela artrose, no limite da loucura”.

Buscava conversar com os carcereiros, que resistiam, mas logo eram seduzidos por sua gentileza e inteligência. Contava-lhes sobre países e culturas diferentes. Isso chamava sua atenção e instigava a curiosidade. Logo começavam a fazer perguntas, o diálogo se estabelecia, a amizade se enraizava. Chegou a dar aulas de inglês e francês.

No começo, a cada semana os guardas eram substituídos, mas logo as autoridades, para evitar que o exército todo fosse “contaminado”, deixou uma dupla de carcereiros fixa. Estes espantavam-se de como o prisioneiro pudesse chamar de amigos os seus carcereiros, mas ele afirmava que os amava porque esse era o ensinamento de Jesus.

Como o amor é criativo, Van Thuan encontrou também um jeito de se comunicar com seu rebanho: “Em outubro de 1975, fiz um sinal a um menino de sete anos, Quang, que regressava da missa às 5 horas, ainda escuro: ‘Diz à tua mãe que me compre blocos velhos de calendários’. Mais tarde, também na escuridão, Quang me traz os calendários, e em todas as noites de outubro e novembro de 1975 escrevi da prisão minha mensagem ao meu povo. Cada manhã o menino vinha recolher as folhas para levá-las à sua casa e fazer que seus irmãos e irmãs copiassem-na”. Assim foi escrito o livro “O Caminho da Esperança”, posteriormente publicado em oito

idiomas: vietnamita, inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, coreano e chinês.

Em 1980, na residência obrigatória de Giang-xá, no Norte do Vietnã, sempre de noite e em segredo, escreveu seu segundo livro: “O caminho da esperança à luz da Palavra de Deus e do Concílio Vaticano II”; depois o terceiro livro: “Os peregrinos do caminho da esperança”.

Sempre inspirado pela criatividade amorosa, Van Thuan escreveu uma carta aos amigos pedindo que enviassem um pouco de vinho, como remédio para doenças estomacais. Assim, a cada dia, três gotas de vinho e uma de água eram suficientes para trazer Jesus eucarístico à prisão. Os pedacinhos de pão consagrado eram conservados em papel de cigarro, guardado no bolso com reverência. De madrugada, ele e os poucos católicos detidos ali davam um jeito de adorar o Senhor escondido com eles.

Um dia, enquanto trabalhava de lenhador, Van Thuan pediu ao amigo carcereiro: “Queria cortar um pedaço de madeira em forma de cruz... Feche os olhos, farei agora e serei muito cauteloso. Você vai andando e me deixa só”. Assim, conseguiu como companheira aquela rústica cruz feita por ele mesmo.

Para completar sua obra, pediu: “Amigo, você me consegue um pedaço de fio elétrico?” Este ficou espantado, sabia que quando prisioneiros conseguem fios, suicidam-se. Mas Van Thuan explicou: “Queria fazer uma correntinha para levar minha cruz”. Saindo da prisão, com uma moldura de metal, aquele pedaço de madeira tornou-se sua cruz peitoral.

O Cardeal Van Thuan foi libertado no dia 21 de novembro de 1988. Em 1994 deixou o Vietnã e foi para Roma, onde presidiu o Pontifício Conselho Justiça e Paz.

Foi criado Cardeal em 21 de fevereiro de 2001. Escreveu mais um livro: “Testemunhas da esperança”, no qual relata sua experiência de prisioneiro. Fazia questão de dizer que não se trata de um livro para fazer denúncias, mas testemunhar o dom da esperança. Vitimado pelo câncer, faleceu no dia 17 de setembro de 2002.

• Os cinco defeitos de Jesús

Van Thuan declara-se apaixonado pelos defeitos de Jesus e os descreve no livro “Testemunhas da esperança”:

PRIMEIRO DEFEITO: JESUS NÃO TEM MEMÓRIA

No calvário, no auge da indescritível agonia, Jesus ouve a voz do ladrão à sua direita: “Jesus, lembra-te de mim quando estiveres em teu reino” (Lc 23,43). Se fosse eu, teria respondido: “Não vou esquecê-lo, mas seus crimes devem ser pagos por longos anos no purgatório”. No entanto, Jesus respondeu-lhe: “...hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Jesus esqueceu todos os crimes desse homem.

Semelhante atitude Jesus teve com a pecadora que banhou os seus pés com perfume... Não faz nenhuma pergunta sobre seu escandaloso passado. Simplesmente diz: “Seus inúmeros pecados estão perdoados, porque muito amor demonstrou” (Lc 7,47)...
A memória de Jesus não é igual à minha...

SEGUNDO DEFEITO: JESUS NÃO “SABE” MATEMÁTICA

Se Jesus tivesse se submetido a um exame de matemática, por certo teria sido reprovado... “Um pastor tinha 100 ovelhas. Uma se extravia. Ele, imediatamente, deixa as 99 no redil e vai em busca da desgarrada. Reencontra-a, coloca-a no ombro e volta feliz” (cf. Lc 15,4-7).

Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove e, talvez, até mais. Quem aceita tal procedimento? Sua misericórdia se estende de geração em geração...

TERCEIRO DEFEITO: JESUS DESCONHECE A LÓGICA

Uma mulher possuía 10 dracmas. Perdeu uma. Acende a lâmpada; varre a casa... procura até encontrá-la. Quando a encontra convida suas amigas para partilhar sua alegria pelo reencontro da dracma... (Lc 15,8-10)... de fato, não tem lógica fazer festa por uma dracma... O coração tem motivações que a razão desconhece... Jesus deu uma pista: “Eu vos digo que haverá mais alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se converte...” (Lc 15,10).

QUARTO DEFEITO: JESUS É AVENTUREIRO

Executivos, pessoas encarregadas do “marketing das empresas”, levam em suas pastas projetos, planos cuidadosamente elaborados... Em todas as instituições, organizações civis ou religiosas não faltam programas prioritários; objetivos, estratégias...

Nada semelhante acontece com Jesus. Humanamente analisando, seu projeto está destinado ao fracasso.

Aos apóstolos, que deixaram tudo para segui-lo, não garante sustento material, casa para morar, somente partilhar do seu estilo de vida. A um desejoso de unir-se aos seus, responde: “As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20)...

Os doze confiaram neste aventureiro. Milhões e milhões de outros igualmente. Já vão lá mais de dois mil anos e a incalculável multidão de seguidores continua a peregrinar. Galerias enormes de santos e santas, bem-aventurados, heróis e heroínas da aventura. No Universo inteiro esta abençoada romaria continua... Vai que este aventureiro tem razão...? Neste caso, a mais fantástica viagem na “contramão” da história será a verdadeira...! “A quem iremos?”...

QUINTO DEFEITO: JESUS NÃO ENTENDE DE FINANÇAS NEM ECONOMIA.

Se Jesus fosse o administrador da empresa, da comunidade, a falência seria uma questão de dias. Como entender um administrador que paga o mesmo salário a quem inicia o trabalho cedo e a outro que só trabalha uma hora? Um descuido? Jesus errou a conta? ...

Por que Jesus tem esses defeitos? Porque é o Deus da Misericórdia e Amor Encarnado. Deus Amor (cf. 1Jo 4,16). Portanto, não um amor racional, calculista, que condiciona, recorda ofensas recebidas. Mas um amor doação, serviço, misericórdia, perdão, compreensão, acolhida... Em que medida? Infinita.

Os defeitos de Jesus são o caminho da felicidade. Por isso, damos graças a Deus. Para alegria e esperança da humanidade, esses defeitos são incorrigíveis.



RETIRADO DO SITE:
http://www.comunidadeshalom.org.br/formacao/ santos/van_thuan.html




Tu és o dia; Tu és a noite

Por: Peter Lippert

Um diálogo entre Jó – que aqui simboliza todo o ser humano com sede de verdade – e Deus, que se dá a conhecer ao mesmo tempo em que permanece intangível à nossa razão.

• TU ÉS O DIA

Senhor, permite-me que fale agora do muito que me agrada o teu mundo! É com tranqüilidade e bem-estar, com um sentimento de posse que acomodo na terra, como se ela fosse a minha casa!

Tu colocaste no céu azul um sol maravilhoso. Como hei de agradecer-to? Como manifestar-te a sensação de beleza indescritível que me causa o calor dos seus raios? E a luminosidade que esse sol derrama sobre a terra, sobre os montes e mares e vales! É verdadeiramente boa esta tua obra! Mas maior felicidade ainda me causa o sol que nos ilumina o íntimo. Podermo-nos olhar a nós mesmos, ter conhecimento das nossas pessoas, examinar a nossa actividade, ver o contínuo refluxo da vida do nosso coração, tudo isso é uma maravilha superior à que nos é oferecida quando contemplamos o vaivém do mar e a revolução das tuas estrelas. E a luz do sol, incidindo sobre os montes, o curso das estrelas, só são verdadeiramente belos, só causam uma felicidade radiante que nos atinge o âmago da alma, quando simultaneamente nos damos conta das palpitações do nosso sentir e do tecido luminoso dos nossos pensamentos. Faz-se dia à nossa volta quando se faz dia em nós e o céu só é bem azul, significativo e melodioso, quando olhamos as paisagens da nossa alma. Como são de lamentar os pobres animais desprovidos de intelecto que vivem nas tuas florestas e nos nossos estábulos, por não poderem ver o dia verdadeiro, por rastejarem, amarrados ao crepúsculo dos seus sentidos e das suas almas cativas. Que sabem eles de si e de nós, dos problemas últimos, dos horrores e da sabedoria da existência? Por isso, nada aproveitam do verde dos prados e do calor dos estábulos.

Mas nós temos dia no nosso ser, dia que ilumina também o mundo. Por cima do escuro rugir das ondas da existência, está uma luz clara que nos aguça a vista e o entendimento, que nos liga a todos os seres, sem nos prender nem prejudicar, que nos abre profundezas que não nos devoram. Oh, a luz do entendimento, o milagre do saber! Libertam-nos do freio do momento que passa – oferecem-nos o passado e o futuro; e arrancamo-nos assim à estreiteza do cantinho ocasional em que nos encontramos. Ganhamos largueza e espaço e tudo o que estes compreendem; satisfaz-se o impulso que nos leva para tudo o que é longínquo, porque é pelo conhecimento que a nossa alma se espraia por onde algo existe e o absorve na luz do seu dia íntimo. Esquecemos, então, a dor silenciosa que nos possa ser causada pela nossa atividade, porque a vemos pequena e mesquinha, qual grão de areia revolvido pelas ondas. O nosso saber alarga-se e abrange tudo, abrange o Universo. Sou o senhor de tudo o que compreendo e encontro-me no centro daquilo que vejo.

O meu caminho de luz estende-se mesmo até junto de ti. Emito os meus pensamentos e estes, elevando-se para ti, envolvem-te e trazem-te até mim. Possuo-te, na medida em que penso em ti. E ao pensar em ti, penetro-te de modo a poder falar-te, uma vez que estás tão próximo, nos caminhos flutuantes do meu pensar. Consigo atingir-te com os meus raios que se aconchegam à tua volta, consigo envolver-te no tecido dos meus pensamentos, como se fosses uma criancinha que eu tivesse dado à luz. No entanto, eu não te criei pelo esforço da fantasia; recebi-te, rodeei-te com os meus braços, absorvi-te e trago-te por toda a parte comigo. Assim te fizeste meu.

É este o dia que brilha em mim e, por vezes, chego a ter a impressão de que é o dia que eu próprio criei e do qual me posso orgulhar. Sou eu que olho à minha volta, que escuto e relaciono tudo o que experimentei e vivi. E assim criei, pela segunda vez, em mim, o teu mundo, como também a ti; consegui possuir em mim aquilo que és e fizeste para além do meu eu. Mas trata-se afinal do teu dia, do dia que Tu criaste. Foste Tu que me deste o poder de penetração e entendimento que possuo; foste Tu que criaste a luz que te ilumina, a ti e ao teu mundo; foste Tu que abriste em mim os olhos do espírito, essa luz que me permite ver. E sobre ela colocaste o mundo, para que eu pudesse entendê-lo, um mundo compreensível, embora apenas em parte. Porque o incompreensível que o mundo apresenta ultrapassará, de longe, o nosso entendimento. À superfície, ele é simples e claro, tão simples e tão claro que uma criança o pode entender. Mas tudo o que se encontra sob essa superfície, só Tu sabes. Todavia, deste-nos um entendimento de criança e colocaste à volta do mundo uma pequena camada transparente que nos foi destinada.

Deste ao mundo unidade, conexão e entendimento para nós. Tornaste simples o curso das estrelas e a queda dos corpos, para que os pudéssemos compreender e saber de antemão como se movem e caem. Estruturaste a seqüência das estações, com riqueza e variedade, mas também com simplicidade e exatidão, para que pudéssemos acompanhá-las e ver como se articula a sua engrenagem. Chegaste mesmo ao ponto de tornar o meu mundo agradável, para que o achássemos belo, a nosso gosto. As estrelas percorrem arcos simples e grandiosos através do espaço, as tuas plantas e animais apresentam formas inteligíveis, graciosas, encantadoras, gratas à vista. Não te limitaste a apresentar-nos as coisas envoltas em luz; deste-lhes cores belas e suaves, benéficas para o nosso espírito.

Até mesmo sobre os mais profundos enigmas que enfrentamos, paira um misterioso reflexo de beleza que podemos compreender. Sobre o temível sinal da Cruz e do Crucificado, sobre todos os quadros de dor e sobre o martírio sangrento dos teus santos, há um brilho maravilhoso, que já vimos e que as nossas mãos tentaram imitar. Esse brilho iluminou as paredes mortas das nossas construções. Pintamos vultos luminosos nas nossas paredes e colocamo-los sobre os teus altares. Que bela deve ser a luz que Tu dimanas, para que mesmo no sofrimento e na morte haja ainda um vislumbre de beleza que Tu aí fizeste incidir – e tudo isso para nós.

Tu prestaste um poderoso auxílio à nossa ânsia de saber. Fizeste mais ainda: indicaste para onde devíamos olhar; dirigiste-nos palavras, palavras capazes de transpor o nosso entendimento, para além das densas barreiras do desconhecido. Tal como se toma uma criança nos braços para ela poder olhar, por cima de uma sebe, para um jardim estranho, Tu chamaste o nosso espírito e permitiste-lhe olhar o teu mistério. Ensinaste-nos palavras plenas de conteúdo; e embora elas nos pareçam estranhas e só desajeitadamente as consigamos imitar, embora na nossa boca elas percam algo de verdadeiro que possuem em ti, ainda assim nos iluminam mistérios e milagres, os milagres do teu amor e da tua misericórdia, como Tu lhes chamaste, que iluminam o sentido último do teu pensamento e atividade e as promessas das nossas relações contigo. Todos os homens ávidos de saber, todos os teus adoradores na terra choraram lágrimas de alegria pelo poder de visão que lhes concedeste. Até mesmo as pobres palavras balbuciantes que imitamos de ti, estão tão cheias de um vigor doce e enérgico que nunca nos cansamos de saborear.

Assim, Tu colocaste o teu mundo e a tua atividade, quase te colocaste a ti também, em pleno dia, em plena luz. Tudo se tornou inteligível, tudo se tornou claro, transparente e compreensível. Todo o teu mundo e Tu próprio, tudo segue as leis da beleza e harmonia que nós podemos compreender. Tudo é ordem, unidade e precisão e nós regozijamo-nos sempre que o verificamos. É este o dia que Tu criaste, o dia em que Tu nos apareces.

Teremos então o direito de pensar que é o teu dia? Aquele em que Tu próprio vives? Que és uma luz própria que de ti irradia e ilumina colinas e vales e mares deste tempo? Ó, então este dia que percorremos teria beleza e doçura infinitamente maiores e eu compreenderia a razão por que todos os espíritos repousam com bem-estar e alegria na luz deste teu mundo. Se nós na sua luz pudéssemos ver a tua própria luz!

Só em luminosidade infinita podemos imaginar a tua vida, uma vida que decorre num brilho intenso, incomensurável, a envolver-te a ti e ao espaço. E essa luz seria a mesma que nos envolve a nós e ao nosso espírito. A clareza, a ordem, a harmonia e a beleza que tanto amamos, existiram também em ti. Teríamos o direito de pensar que as órbitas, segundo as quais se movimentam os teus astros, e a imensidade das tuas plantas e animais, são também para ti motivo de beleza. Poderíamos tomar a luz do dia como guia para nos levar a ti. A clareza, a ordem, a razão seriam sempre um sinal de que nos aproximamos de ti, de que estás perto de nós. E pelo contrário, tudo o que para nós é obscuro, sombrio e confuso significaria que te perdemos de vista. Poderíamos até determinar os contornos do teu vulto, poderíamos, pelo menos, dizer onde terminas, onde deixas de existir, onde reside para ti a impossibilidade: no ponto onde pára o nosso espírito começam o contra-senso e a loucura, o vazio, o nada e a maldade.

Temos, portanto, uma mesma língua materna. As palavras que o nosso espírito pronuncia, as palavras de entendimento, de saber, de reconhecimento criador, estas palavras do nosso íntimo ressumam o mesmo significado que enche a tua palavra eterna, aquela que pronuncias em ti próprio. Nós compreendemo-nos porque Tu ensinaste a tua palavra paterna que passou a ser a língua comum do nosso espírito. Meu Deus! Nós vivemos numa mesma luz, falamos uma mesma língua, obedecemos a uma mesma lei – Tu, Nosso Senhor! Sentimos a alegria inefável da tua proximidade. Tu és o teu dia e és também o meu.

• TU ÉS A NOITE

Senhor, como poderá acontecer que nos fatiguemos até mesmo do dia, do teu dia? Não por capricho, por não suportarmos a demasiada doçura da tua luz, mas porque somos levados, na verdade, a duvidar da luz do dia! Não nos enganará ela sobre as profundezas que esconde, sobre esses abismos tenebrosos, insondáveis e misteriosos, que não são dia, mas noite?

Mesmo quando eu ainda gozava pacificamente e me embriagava com a luz do dia, já despontava em mim uma dúvida que me fazia perguntar a mim próprio: esta claridade cristalina, estas evidências tão agradáveis, esta transparência, não serão apenas a superfície do teu mundo? Não a terás feito propositadamente para nós, teus filhos tímidos? Era impossível que, um dia ou outro, não viéssemos a notar que a transparência e a claridade superficial das coisas não são tudo, não contêm toda a realidade!

O nosso dia tende constantemente para um crepúsculo. A nossa razão embota-se e esvazia-se, as nossas classificações tornam-se estreitas e rígidas, a nossa inteligência não é afinal mais que uma peneira que deixa passar tudo o que gostaríamos de reter, deixando-nos apenas palha. Os homens de ordem, de razão, de reflexão clara e fria nunca escapam à estreiteza rígida e à cegueira. Justamente aqueles que pareciam estar na luz mais crua, tornam-se sempre cegos. Terá sido a tua luz que os cegou? Eles constituem então um entrave para todo o impulso vital. A claridade que tanto apreciamos torna-se fria, quase dura. E gelamos no meio da nossa razão. Tudo se transforma em gelo límpido, mas morto. É então que duvidamos da nossa ordem e da nossa lógica, da beleza e vastidão dos nossos conhecimentos, da duração e precisão do nosso saber, em que julgávamos poder gozar de uma segurança perfeita.

Quando o nosso espírito se abre totalmente, tornando-se clarividente, a nossa lucidez apavora-nos então, como um preâmbulo de demência. Atormenta-nos a lógica impiedosa do nosso pensamento, como se estivéssemos presos a uma roda em contínua rotação. Os nossos conhecimentos arrastam-nos para os cumes gelados da dúvida e da saciedade, onde toda a vida paralisa. Será o nosso pensamento um vampiro que nos suga o sangue? Elevamos, para além do real tangível, construções cuja ousadia ultrapassa todos os planos do visível. Não teremos construído no vazio?

Nós temos uma vida própria, cuja interioridade complexa e requintada nada tem de comum com a vida apagada dos sentidos, das árvores e dos animais. Com que orgulho lhe chamamos vida do espírito! Mas talvez ela não seja mais que um triste engano. Talvez sejamos vítimas de um gênio mau e astuto, quando pensamos e criamos, quando estabelecemos lógicas, raciocínios e sistemas sabiamente elaborados. Porque esta vida do espírito, de que nos orgulhamos, gera também os nossos desfalecimentos, as nossas impaciências, as nossas suscetibilidades, os nossos fanatismos e as nossas crueldades. É no campo do espírito que travamos os nossos estúpidos combates contra moinhos de vento e sofremos derrotas ridículas. As nossas façanhas espirituais!

Não nos preveniste já que o nosso saber nos torna jactantes? É mais que certo que nos tira a ternura de coração, o abandono e a generosidade, que nos enfraquece. Afilamos os pensamentos até que a ponta se parte, somos lógicos nos nossos raciocínios até à loucura, mas nunca somos conseqüentes nas nossas ações – até à mentira. Mas é possível que nos salvemos muitas vezes nesta contradição, visto que será a negação dos nossos raciocínios a manter-nos sãos. A mentira tem que nos salvar dos nossos excessos de razão. Não poderemos olhar o fato como uma autêntica flor das trevas do nosso espírito?

Nós quereríamos abranger a realidade numas poucas frases inteligíveis, em planos e conclusões. E uma vez tudo cuidadosa e habilmente construído e combinado, eis que somos forçados a constatar que os nossos reservatórios não retiveram as águas em eterna corrente. Fabricamos tonéis sem fundo, lançamos redes para prender os raios do sol. Deparamos constantemente com aparências diferentes das que esperávamos, sempre ligeiramente diferentes, como que para nos desfrutar; há sempre algo que ultrapassa as nossas previsões. Quantas tabuletas de interdição se encontram por toda a parte, na terra dos homens, proibições que a realidade descuidadamente ignora! A realidade troça da nossa verdade; e nós tínhamos pensado que a realidade e a verdade eram indissolúveis! Por isso a nossa verdade nos parece por vezes tão árida e gasta, como que feita de palha. É maçadora, torna pesado o impulso das nossas asas.

Os cuidados que temos de dispensar à nossa verdade – porque temos de o fazer –paralisam-nos a vontade; até mesmo a nossa bondade recua perante o dedo curvo e ameaçador da nossa verdade, porque está de certo modo consciente da sua culpa. E quando nós, finalmente, cansados de fazer concessões, ultrapassamos ousadamente estas verdades gastas, verificamos que não eram mais que espantalhos. De realidade apenas tinham os traços e o nome; vida alguma lhe animava os membros rígidos e desengonçados.

Mas então vamos, na verdade, duvidar do dia? Do dia feito pelo Senhor? É impossível que Tu desejes ver-nos esquecer e renegar a prudência, a inteligência e a claridade para seguirmos, às cegas, os nossos impulsos. E no entanto, parece ser essa, por vezes, a tua intenção. Porque a prudência a que nos referimos faltou muitas vezes aos teus santos; dissiparam sem poupar; avançaram impetuosamente sem olhar para trás. Desfraldaram todas as velas ao vento das tuas tempestades; e sem prudência, ultrapassaram todas as realizações das nossas prudências. E eras Tu que os conduzias pela mão, que os guiavas através das advertências das nossas estreitas circunspecções. Sim, és Tu que nos arrancas à bela quietude dos nossos dias trasbordantes de luz, que nos impeles continuamente para a noite. Ensinas-nos, sem cessar, que os nossos dias provêm das trevas.

É do escuro e inexplorado que jorram águas novas, fontes vivas, quando as antigas secaram; lá bem do fundo, de profundezas que sol algum ilumina. É do subconsciente, das trevas de um poderoso impulso de criação e de vida, do fundo de corações trasbordantes, que surge e se renova constantemente a água viva. Na noite, para além de toda a reflexão e previsão, são espalhadas novas sementes; tempestades doidas renovam as tuas estrelas que envelhecem e fecundam de novo os espíritos fatigados.

É assim que Tu vivificas, que Tu regeneras, que Tu libertas na noite, onde já não chega a luz do nosso pensar. Tu habitas a noite. Serás acaso essa noite? Serás apenas a contradição do nosso dia ou renegarás igualmente o teu próprio dia? É assim que nos apareces: destróis o que edificas, apagas o que iluminas e abençoas o que jaz nas trevas. Quem já alguma vez aventurou um olhar para a tua noite – oh!, um homem só de muito longe o pode fazer, para não morrer-terá sentido a tentação de passar a crer apenas na voz das profundezas, naquilo que se encontra sob esta superfície diáfana, brilhantemente iluminada. Toda essa transparência, toda essa ordem parecem-lhe uma trama vazia, restos ou palha, semelhantes à nuvem de pó que os processos de transformação deixam atrás de si, cintilando um momento à luz do sol. Por outro lado, o imponderável, o imprevisível, o inconcebível, o indizível surgem por toda a parte e conquistam o mundo. Os nossos conceitos cuidadosamente elaborados ficam reduzidos à insignificância, os nossos sistemas adquirem um ar ridículo, os nossos pensamentos sublimes não são mais que uma miragem longínqua, que nos foge quando a vamos agarrar. E fica-nos a realidade, tão diferente dos nossos mais sublimes pensamentos. Uma realidade sombria, ameaçadora e cheia de perigos, onde não cabe aquilo a que chamamos ordem – a ordem que tanto amamos –, onde não há constância, harmonia, beleza nem tranqüilidade! Uma realidade que é uma revolução contínua, um redemoinho, um turbilhão, uma fuga desordenada e um eterno recomeçar, semelhante às ondas do teu mar que correm constantemente para as praias, para logo recuar e tornar a avançar -tudo absurdo, inconsciente, forçado.

É esta, sem dúvida, a tua vontade. Tem de haver noite, porque Tu próprio és a noite. És esse impulso obscuro que perpassa pela tua criação, a vaga desordenada e tumultuosa, o caos. Mas é justamente neste caos que reside a tua fecundidade criadora. Em ti, o informe é pleno de beleza e o obscuro radiante. Em ti, o impulso selvagem é pleno de bondade e a tempestade devastadora transborda de colheitas futuras.

Por isso as nossas inspirações vêm desse abismo obscuro – por grandes que elas possam vir a ser em nós! Se quisermos ganhar forças vivas, beber das fontes do ser e da vida, teremos de abandonar os caminhos luminosos da nossa experiência quotidiana e fechar os olhos antes de ousar saltar para o teu abismo. Para nos unirmos totalmente a ti, para vibrarmos em uníssono com a vida, teremos de nos deixar cair nessa noite sagrada, prenhe de mistério, onde as nossas meditações, reflexões e apreensões adormecem. É preciso que as tuas sombras nos cubram o espírito para que possa vingar o fruto da tua vida, que nos depuseste no seio.

Por conseguinte, Tu és o dia e a noite e nós somos apenas crepúsculos. Por isso a história que nos relata a tua criação acrescenta após cada uma das tuas obras: “E houve tarde e houve manhã”. Tudo o que Tu criaste é tarde e manhã, está contido entre o dia e a noite, toda a tua obra repousa sobre essa linha estreita que separa aquilo que chamamos tarde e manhã. Aos melhores dos teus espíritos chamaste “Lucíferes”, estrelas da manhã; e nós, criaturas humanas, somos certamente os seres da tarde. O dia precede-nos e nós corremos atrás dele, que nos foge sem cessar. Mas por detrás de nós avança a noite, cujo seio nos dá constantemente à luz.

Tu, porém, és o dia e a noite, sempre diante de nós, sempre atrás de nós, origem e fim, em distâncias inacessíveis. Porque nós não nos podemos furtar às ruelas estreitas da manhã e da noite. Na luz crepuscular do ocaso e da aurora, paira através dos espaços o longo cortejo fantástico das tuas criaturas. O acesso ao meio-dia tórrido em que te encontras, e ao coração da noite, essa noite profunda, doce e sem fim, está-lhes interdito. Tu, insondável! Tu habitas uma luz inacessível que é também a tua treva inatingível.


* Jesuíta alemão nascido em 1879 e falecido em 1936. Tornou-se conhecido por sua pregação, pelos seus artigos e pelos seus livros de espiritualidade.


Fonte: “E Job disse a Deus”, Editorial Aster, Lisboa, 1958, págs. 35 a 46.
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Tradução: Gudrun Hamrol